terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O preço do grátis


Há uns anos atrás assisti a uma conferência do analista político Pacheco Pereira que me partiu todo (caso tivesse dúvidas, vindo de mim é um elogio). O Clube de Criativos de Portugal fazia 10 anos e lançara um ciclo de conferências com o tema “Qual é a melhor ideia dos últimos 10 anos?”. Para Pacheco Pereira era o “o acesso a tudo”. Quero um livro, google, leio. Quero uma música, youtube, ouço. Quero um filme, streaming, vejo. Quero falar com amigos na Nova Guiné, skype, falo. Antes era difícil ter acesso às coisas. Agora as coisas desmaterializaram-se. O acesso a elas ficou fácil. A “facilitização” tirou-lhe valor comercial. Resultado: aceder a “all things digital” ficou grátis.

Há duas semanas acompanhei o ping pong internético entre a APAP, o publicitário Pedro Bidarra e a diretora de marketing da CP. O tema em questão era a remuneração que os caminhos de ferro estavam dispostos a pagar pela criatividade para a sua marca, no concurso público para atribuição da conta. O valor em questão era, segundo os críticos, abaixo de 5 euros por hora. Ou seja, a tender para o grátis.

Há uns dias almocei com um amigo que estava indignado com o facto do preço do trabalho criativo ter descido vertiginosamente. Trabalhar, queixava-se, estava perigosamente a cair no grátis.

Esta semana li um artigo antigo do Malcolm Gladwell, recomendado pelo meu amigo indignado, escrito em 2009 para a revista New Yorker, intitulado “o futuro é grátis?”. Ele insurgia-se contra as consequências da famosa declaração de Stewart Brand, “a informação quer ser livre”. Livre para chegar a toda a gente. Livre de um valor comercial que limitaria o acesso a toda a gente. Além de que, como sabe, em inglês, livre (“free”) também quer dizer “grátis”. Grátis é para Gladwell um deus que tem um preço escondido, escrito em letras tão pequenas que ninguém vê, mas está lá. Mas já lá vamos.

A única coisa que paguei de tudo isto, foi o meu almoço. Assistir à conferência do Pacheco Pereira custou zero. Ler o ping pong da CP no Dinheiro Vivo online, idem. A opinião que o meu amigo me deu e que serviu de kick off para este artigo, foi de graça (obrigado, Tomás). Também não paguei nada por ler o artigo do Gladwell na edição online da revista. Não vou ser pago para escrever este artigo (embora me ofereçam gentilmente a edição online do DN). E você, caro leitor, está a ler este texto de graça.


Fonte: Buzz Media

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